Grandes Times: o Real Madrid de 2016-2018

A história do Futebol


Um time que não encantou, não revolucionou, não transcendeu, mas igualmente, jamais será esquecido, por ser uma máquina de quebrar recordes na UEFA Champions League, a competição mais charmosa do planeta. Este é o Real Madrid do triênio 2016-2018, o Real Madrid de Zinedine Zidane. Também poderia ser o Madrid de Sergio Ramos, de Toni Kroos, de Cristiano Ronaldo. Mas foi mais do que isto.

Zinedine Zidane foi um dos maiores jogadores da história do futebol. Pouca gente entendeu tão bem o jogo em campo, como Zizou. Mais do que isso, ele controlava os tempos, os espaços, e sabia potencializar companheiros. No começo do século XXI, o Real Madrid de Florentino Pérez, quebrou a banca, e pagou um valor recorde para o ter como jogador, e ele brilhou vestindo a camisa Blanca. Jamais será esquecido o seu gol de voleio na final da Champions League de 2002, em Glasgow. A magia  de Zidane que tanto brilhou em campo no Santiago Bernabéu, de onde se despediu ao se aposentar em 2006, não será jamais esquecida pelo torcedor. Mas dez anos depois, Zizou, voltaria à ser figura da equipe, em outras funções, mas para fazer história.

Muito se fala que Zidane pegou o Real Madrid encaminhado, após trabalhos de Carlo Ancelotti e Rafa Benítez, o que não é uma completa verdade, nem uma mentira. O Real Madrid da última década, mudou após o gol de Sergio Ramos em Lisboa. Esse gol e a conquista de la Decima, provocaram uma mudança de realidade ao clube, que após anos sonhando com a décima Champions, a conquistou. Zidane era auxiliar de Ancelotti nesta conquista, em 2014, e logo depois assumiu o comando do Real Madrid Castilla, a filial de aspirantes merengues, onde ficou até janeiro de 2016, quando foi efetivado como treinador da equipe principal do Real, após a demissão de Benitez. 

Zidane assumiu um Real Madrid galáctico, como sempre foi com Florentino Pérez, e agora, pós Mourinho e Ancelotti, vencedor. Isso, claro, não é garantia de vitória, ainda mais em uma competição com a Champions League. E aqui, fica claro o maior mérito de Zidane. Ele entendeu que mais do que um sistema de jogo rígido e extremamente mecanizado, precisava potencializar o individual. O Madrid nunca foi um clube de encantar pelo coletivo, mas de vencer por aliar vários talentos individuais. E este foi o mérito de Zidane: potencializar o individual acima de pensar no coletivo, entendo o DNA do clube, e criando uma hierarquia absurda, na competição mais charmosa do Mundo.

O Real Madrid de Zidane conquistou a UEFA Champions League três vezes seguidas, nas temporadas 2015/16, 2016/17, e 2017/18. Antes dele, ninguém havia ganhado a UEFA Champions League, em sua era moderna (pós-1992), duas vezes consecutivas, e desde o Bayern do triênio 1974-1975, não tínhamos um tricampeão europeu consecutivo.

Zidane assumiu o Real Madrid em janeiro de 2016, após a demissão de Rafa Benítez. Naquela altura, o Barcelona tinha boa vantagem na ponta de La Liga. Zizou comandou uma reação absurda, e quase passou os blaugranas, inclusive vencendo um clássico no Camp Nou, de virada, por 2 a 1. Mas sabia que ganhar a Champions League, onde o clube conhecia os caminhos, era o ideal. Com Bale recuperado de lesão, colocou o galês como o colosso de uma equipe, que tinha Benzema saindo da área para gerar jogo, e Cristiano Ronaldo entrando nela para gerar gols. Mas sua grande sacada foi colocar Casemiro como volante, na frente da área, dando mais liberdade para Kroos e Modric serem interiores. Como duplo-pivote, a dupla sempre deixou questões em fases defensivas, mas com o brasileiro um pouco atrás, podia subir e controlar o jogo. Na defesa, Carvajal e Marcelo viraram atacantes que partiam da lateral, dando amplitude ao time, com Sergio Ramos esbanjando hierarquia na zaga, ao lado de Varane, e Keylor Navas no gol.

Assim, o Real Madrid eliminou Roma, Wolfsburg, e Manchester City, até chegar na decisão da Champions League, disputada no San Siro, em Milão, onde venceu o Atlético de Madrid, nos pênaltis, após empatar em 1 a 1 no tempo normal. Mais uma vez, como em Lisboa, a cabeça de Ramos fez o gol do Madrid no tempo normal, com Carrasco empatando para os colchoneros. Ainda em 2016, o Madrid venceu o Sevilla na Supercopa da UEFA, e conquistou o Mundial de Clubes, eliminando o América-MEX na semifinal, e batendo o Kashima Antlers na final. Mas 2017, seria ainda melhor.
Na temporada 2016/17, mesclando reservas em vários jogos, um Madrid alternativo comandou a conquista de La Liga, quebrando a hegemonia do Barcelona. Na Champions League, com Bale brigando contra as lesões, Zidane promoveu Isco como titular na mediapunta, após o mesmo se destacar em chances que lhe eram dadas. Este Real Madrid do 4-3-1-2 com Isco entre os meias e os atacantes, virou de vez o time do toque de bola apoiado e cadenciado, especialmente pela esquerda, onde estavam Ramos, Kroos, Marcelo e geralmente Isco e/ou Benzema. Cristiano Ronaldo fazia a diagonal da bola, atacando espaços, e marcava gols como queria. Este era um time para grandes noites, e elas vieram. Após passar em segundo em seu grupo, atrás do Borussia Dortmund, o Real Madrid eliminou Napoli, Bayern e Atlético de Madrid, antes de fazer 4 a 1 na Juventus na final de Cardiff, e ser o primeiro bi-champions da história.

Ainda em 2017, o Real Madrid conquistou a Supercopa da UEFA, vencendo o Manchester United por 2 a 1, a Supercopa espanhola, superando o Barcelona em jogo duplo, e o Mundial de Clubes, passando pelo Grêmio, com vitória por 1 a 0 na final. Mais uma vez não foi bem na Copa do Rei, caindo diante do Leganés (havia sido eliminado pelo Villarreal na temporada anterior), e em La Liga, não conseguiu disputar a taça. Seu modelo de jogo não era uma roupa para jogar bem todas as rodadas de uma liga, mas era um traje de gala para grandes noites da Champions League, que logicamente vieram.

O Real Madrid começou a Champions League 2017/18 no grupo H, onde ficou na segunda colocação, atrás do Tottenham, e no mata-mata, foi passando por PSG (vitórias por 3 a 1 em casa, e 2 a 1 fora), Juventus (vitória por 3 a 0 fora, e derrota por 3 a 1 em casa), e Bayern (vitória por 2 a 1 na Alemanha, e empate em 2 a 2 na Espanha). As atuações merengues foram de imposição na ida, sabendo usar o mental para superar os rivais, que por vezes pareciam desconectados de um cenário, onde o time comandado por Zinedine Zidane se sente a vontade. Na volta, não jogou bem, especialmente nos dois jogos no Bernabéu, quando chegou a estar perdendo para a Juventus por 3 a 0, o que levava o confronto para a prorrogação, mas marcou com Cristiano Ronaldo de pênalti, nos instantes finais, e passou com o placar agregado. Contra o Bayern, um novo sufoco, embora menor, assegurou o time na decisão, onde foi superior ao Liverpool, especialmente após os Reds perderem Salah, lesionado. 

O time de Zidane, ao redor da temporada, teve defeitos do 4-3-1-2 expostos. Esta formação depende de uma concentração absurda dos jogadores para circular a bola, e pressionar pós-perda, que pode ser mantida em grandes noites, mas não duas vezes por semana. Zizou testou um 4-4-2 em linha como alternativa, que mesmo competitivo, com velocidade pelos lados, sem tirar Cristiano Ronaldo de sua função, dava muitos espaços entrelinhas para os rivais, algo que também um pouco atrapalhava.

Na final, disputada no dia 26 de maio de 2018, o Real Madrid venceu o Liverpool por 3 a 1 em Kiev, se tornando o primeiro tricampeão europeu, desde o Bayern do triênio 1974-1976. Alguns dias depois, Zidane anunciou sua saída do comando técnico, o fazendo por cima, como quando era jogador, que se aposentou com o manto branco.

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